Projeto pretende censurar o pensamento crítico nas escolas
Os defensores desse
pseudo-movimento “escola sem partido” carecem de embasamento em seus
argumentos. O conjunto de ideias que sustenta esse grupo se pauta por
“achismos”, descrença na capacidade intelectual e crítica dos jovens, além de
desconsiderar a vasta gama teórica e filosófica da educação.
Num primeiro momento
deve-se ter a clareza de que não existe educação neutra, essa é uma premissa
para qualquer reflexão sobre o processo educativo, o funcionamento das escolas
e o papel político da educação pública.
Considerar que na
relação ensino-aprendizagem há uma relação de “domínio e passividade” é se
distanciar do que há de mais aclamado e defendido nos meios acadêmicos
dedicados às ciências da educação. Educar é construir conhecimento! Educar é
estabelecer relação, é troca, é experiência. Na relação “ensino-aprendizagem”,
educador e educando são sujeitos do processo.
Esse grupo que se auto-intitula "movimento
escola sem partido", com o devido respeito, carece de embasamento teórico
sobre educação. Concebem a educação como um processo de dominação,
inferiorização, transferência de conhecimento. Não consideram o protagonismo
dos sujeitos no processo de socialização.
Reivindicam seus defensores uma "escola sem partido", como se fosse a escola um centro de doutrinação partidária, onde os jovens seriam "alienados" por discursos políticos. Defendem uma educação "neutra", sem posicionamento embasado por metodologia científica do educador. Quando se manifestam, não raro, os defensores dessa “bizarrice” se direcionam mais especificamente a valores e pensamentos da dita “esquerda”.
Para os que conhecem a educação como processo social e a analisam sobre as diversas linhas das ciências da educação, chega a ser "grotesco" a pretensão dos integrantes desse "movimento". Não sustentam seus argumentos além do senso comum e da ignorância sobre os processos pedagógicos. Poucos apresentam sustentação teórica para suas posições.
É preciso defender “educar é um ato político”.
Parte de uma intencionalidade forjada numa experiência. Experimentamos a vida,
as relações sociais e nossa consciência. O educador, para Paulo Freire, é um
"facilitador", um "orientador" para a descoberta e leitura
do mundo. Por orientar para a leitura do mundo sua ação já é intencional, no
caso, libertadora. A educação como prática da liberdade (título de um livro de
Paulo Freire) é uma educação em que o educador se afirma politicamente, não
somente na sua convicção acadêmica, mas, sobretudo, em sua prática educativa e
política.
Não cobrem neutralidade no ato de educar e não queiram restringir a liberdade de cátedra. Proibir qualquer leitura da realidade, da escola, da educação por seu fundamento teórico é inibir a própria natureza filosófica e crítica que alavancaram o vasto acúmulo de conhecimento científico das Ciências Sociais e Humanas.
Sendo todo discurso ideológico, a defesa da “escola
sem partido” acaba sendo a imposição de um único valor e discurso ideológico
nas escolas. Todavia, o discurso ideológico está impregnado nas escolas. Os
sujeitos da educação escrevem suas histórias a partir de seus valores
construídos nas diversas relações sociais. Não é a escola o centro determinante
da formação ideológica dos sujeitos. Andando pelas ruas, os sujeitos, lendo um
simples outdoor já estão se formando ideologicamente. A “escola sem partido” é
uma forma subliminar de implantar e censura ao pensamento crítico nas escolas.
O pensamento político conservador nas escolas não
tem sido alvo de críticas por parte do movimento “escola sem partido”. Muito
pelo contrário, são os valores tradicionais, conservadores que flertam com o
movimento. Não raro, encontramos defensores dessa proposta bizarra (aos olhos do
pensamento científico) defendendo preconceitos. Na verdade querem impedir a
reflexão nas escolas pautada pelo pensamento sociológico e pedagógico que estão
alinhados ao pensamento político da “esquerda”. Trata-se pois, sem dúvida
alguma, de censura.
Escola é lugar de pensamento científico, de
debates, leituras, conhecimento, críticas. Não há escola alguma com professores
totalmente alinhados a uma corrente de pensamento científico das diversas áreas
de conhecimento. Há sim, nas escolas, uma multiplicidade de convicções,
exposições e práticas políticas. Nesse processo, os jovens são parte, como
sujeitos, das suas experiências vivenciadas também no ambiente escolar.
Diney Lenon é professor, Especialista em Gênero e
Diversidade pela UFLA e atualmente exerce a função de diretor de escola na rede
estadual de MG.