quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

As constantes transformações das relações de produção na sociedade capitalista: a cooperação, a manufatura e a grande indústria



A leitura do processo de trabalho, assim como das constantes transformações das relações de produção na sociedade capitalista, sob a ótica marxista exige como pressuposto ao entendimento uma abordagem crítica sobre as formas como se processam a apropriação da natureza como valor de uso e o processo de criação da mais valia.
Ao empregar mais de um trabalhador, o capital individual começa sua escalada rumo à transformação do modo de produção de riqueza na sociedade. O burguês, ainda no final do Feudalismo passa a coordenar o trabalho de diversos trabalhadores, ainda mestres do seu ofício, oferecendo a estes a sua demanda, que é externa à realidade dos mesmos, concretizando a alienação do trabalho.
Determinada pelo mercado, a demanda acaba por fazer com que o conjunto de trabalhadores empregados pelo mesmo burguês se torne dependente deste. A oficina do mestre artesão passa a crescer e a incorporar um número maior de trabalhadores, a princípio o ofício ainda é mantido, cada qual exercendo seu trabalho, mas voltado à mercadoria final, que está sob orientação do burguês. Nesse sentido ainda se faz notar que nem sempre os trabalhadores necessitam se encontrar num mesmo espaço físico.
O sistema de cooperação, onde muitos trabalham juntos em processos de produção conexos determina, à partir do trabalho combinado, a criação de uma força que Marx classifica como força produtiva nova, uma força capaz de extrair do conjunto de trabalhadores uma produção muito mais dinâmica e capaz de gerar mais valia. Essa força nova gerada pelo trabalho em sistema de trabalho coletivo se estrutura como elemento fundamental para o desenvolvimento da produção capitalista.

Não se trata aqui da elevação da força produtiva individual através da cooperação, mas da criação de uma força produtiva nova, a saber, a força coletiva Pondo de lado a nova potência que surge da fusão de muitas fôrças numa força comum, o simples contacto social, na maioria dos trabalhos produtivos, provoca emulação entre os participantes, animando-os e estimulando-os, o que produz um produto global muito maior do que 12 trabalhadores isolados, dos quais cada um trabalha 12 horas, ou do que um trabalhador que trabalhe 12 dias consecutivos. É que o homem, um animal político, segundo Aristóteles, é por natureza um animal social. (MARX, 1971)

Um exemplo do trabalho cooperado e seu resultado enquanto força nova produtiva, usado por Marx, são as gigantesca obras realizadas pelos antigos povos asiáticos, pelos egípcios e pelos etruscos. A força combinada de diversos trabalhadores sob mesma orientação leva à dinamização da produção, sendo possível aumentar a extração de mais valia relativa. Nesse sentido é necessário que se tenha uma compreensão mais aprofundada da exploração da mais valia para poder entender o desenvolvimento da cooperação, resultando na manufatura e na grande indústria, processo histórico analisado por Marx.
Como economista que desenvolveu um paradigma das ciências sociais, colocando sua teoria econômica e política como premissa em qualquer análise crítica da sociedade moderna e do modo de produção capitalista, Marx afirma que o trabalho se objetiva em valor. Sua leitura é pautada pelo materialismo histórico, método que compreende o movimento da matéria, “não há matéria sem movimento e não há movimento sem matéria”. Quando os trabalhadores se completam mutuamente, fazendo a mesma tarefa ou tarefas da mesma espécie, tem-se a cooperação simples e com o desenvolvimento desta a leitura dialética evidencia os conflitos que emergem dessa relação trabalho-capital.
O agrupamento de vários trabalhadores empregados por um mesmo capital, sob a forma de cooperação, se desenvolve desde meados do século XVI até o final do século XVIII. Elementos externos, como a demanda, determinam o aprimoramento da produção e a oficina vai se transformando, incorporando o trabalhador de ofício ao processo, fazendo-o uma parte fragmentada, especializada.
Nesse contexto passa a se desenvolver a divisão e a sub-divisão do trabalho, o antigo ofício, em toda a sua extensão, como afirma Marx, torna-se parte do sistema de produção. Isso se deve em parte ao suprimento das diferenças individuais de cada mestre de ofício. Ao produzir para o mercado o trabalhador se torna dependente deste. Com o ajuntamento de diversos trabalhadores empregados pelo mesmo capital, junto com a força produtiva nova surge o trabalhador coletivo. O trabalho social médio resulta da síntese do trabalho individual compreendido enquanto parte do trabalho coletivo. O indivíduo é moldado pela expectativa do mercado quanto à sua potencialidade média de produção, colocado como uma peça da engrenagem que não pode fugir à média produtiva, “para levantar uma tonelada um homem não tem força suficiente, 10 homens precisam fazer força e 100 conseguem faze-lo com um dedo apenas”.
O salário é a forma de pagamento pela jornada de trabalho. Representa a quantidade de capital necessário para a reprodução da força de trabalho. O capital, na sua forma mais adulta, quando é investido nos meios de produção, trabalha o fetiche da mercadoria e faz com que o trabalhador se torne assalariado recebendo o que lhe é necessário para a sua reprodução e da sua família. Uma questão que merece destaque é a incorporação da família no processo produtivo. Ao participar da produção capitalista, vendendo a sua força de trabalho, a mulher e até a criança retiram parte do salário do homem, o que faz desvalorizar o trabalho. Isso é importante para o capital que Consegue grande quantidade de mercadoria trabalho no mercado a preço baixo.
A obtenção da mais valia acontece porque o burguês, detentor dos meios de produção paga ao trabalhador o salário e fica com a objetivação da produção excedente. Há então uma acumulação de capital excedente produzido pelo trabalhador que o capitalista investe na produção visando maior acumulação. O desenvolvimento da produção capitalista alcança seu cume com a maquinaria, ou seja, com a produção em larga escala associada à técnica e à ciência.
O período manufatureiro se destaca pelo aprimoramento da ferramenta e à mecanização do homem no processo. A subordinação do homem à máquina se dá com plenitude na fábrica. Com a maquinaria o homem vai perdendo espaço e se transforma numa parte da máquina, se especializando, não se identificando mais no produto do seu trabalho, assim se constitui o trabalho alienado.
Existe uma luta entre o capital e o trabalho materializada na luta entre o homem e a máquina. A máquina concentra técnicas de produção de mais valia. Com a implantação das máquinas o capital se desenvolve numa velocidade sem antecedentes, a revolução industrial representa o rompimento com as antigas formas de produção e determina a consolidação do capitalismo enquanto sistema econômico dominante. Mas esse processo não é tão lógico o quanto parece, ele é impulsionado por uma série de contradições internas e externas que revelam a historicidade das relações estabelecidas na produção.
O trabalhador parcial moldado pela fábrica é resultado de um processo histórico que remonta às transações comerciais do período que compreende o final do feudalismo. O sistema de cooperação surge como necessidade do desenvolvimento do comércio e da produção econômica, a manufatura aperfeiçoa as técnicas de produção proporcionadas pela nova força produtiva gerada pelo trabalho coletivo e aprimora a ferramenta, retirando do mestre de ofício a sua característica de proprietário do seu trabalho. Empregados por um mesmo capital, os trabalhadores iniciam a sua desconstrução enquanto ser capaz de pensar/agir.
A relação de troca se altera entre a cooperação, a manufatura e a maquinaria. O que se tem por objetivo com a produção é a obtenção de mais valia, não se troca uma mercadoria por moeda com o objetivo de obter uma outra determinada mercadoria, mas sim se produz com intenção de se obter mais valia, capital acumulado pra se produzir na obtenção de mais capital. Como afirma Marx, a alteração se dá da seguinte forma: M---D---M é alterada e se busca a relação D---M---D, sendo M, mercadoria e D, dinheiro.
As constantes transformações do modo de produção capitalista atendem à necessidade concreta determinada pela realidade. A contradição entre capital e trabalho é latente e inconciliável, nesse sentido o capital tende a agir como um “camaleão”, se transformando e se recolocando de forma hegemônica. O trabalhador, deslocado do seu ser, dependente do sistema, fragmentado, age diante da realidade da sua forma, de açodo com os seus interesses, sempre em contraste com os interesses do capitalista. Esse conflito demanda artifícios que camuflem a exploração do trabalho por parte do capital. Os artifícios usados pelo burguês, constituídos historicamente, não permitem a transformação do status quo sem a consciência dos trabalhadores de estes são sujeitos históricos capazes de transformar a sua realidade, assim como os capitalistas procuram molda-la de acordo como os seus interesses.
O sistema capitalista de produção de riquezas projeta possibilidades de extração de riqueza em tudo o que lhe é próximo, tudo é mercadoria e havendo possibilidades de toma-la como propriedade o que se segue é a busca de uma forma de dinamizar a sua exploração. Constantes transformações ocorrem nas relações capitalistas de produção enquanto que o sistema se reproduz, reproduzindo o conflito e a transformação.


Diney Lenon de Paulo



BIBLIOGRAFIA:

MARX, Karl O Capital. 2ª ed. Livro Primeiro.. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

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