quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Diversidade como Princípio da Humanidade

por Diney Lenon de Paulo


A diversidade cultural na escola tem sido alvo de diversos estudos e produções acadêmicas. Esse interesse crescente se associa à grande necessidade que educadoras, educadores e profissionais da educação têm demonstrado diante da temática e dos processos e programas de inclusão, combate ao preconceito e valorização da diversidade cultural.
Estudos apontam para falhas ainda presentes em cursos de licenciatura no que tange à temática diversidade cultural na escola. Segundo a professora Carolina Faria Alvarenga (2010), poucos cursos oferecem disciplinas voltadas para a construção do saber sobre a temática. Entre os que apresentam alguma oportunidade para os educandos, estão os cursos de Pedagogia, mas mesmo estes, na maioria das vezes, oferecem disciplinas propícias para a formação em diversidade cultural de forma optativa, sem o devido peso que as mesmas carecem. Nesse sentido, a pesquisadora e professora do Departamento de Educação da UFLA sugere que, “a ausência (ou quase ausência) da discussão de temas tão relevantes para a formação de educadoras e educadores precisa ter seu espaço garantido em cursos de formação continuada, como os de extensão.” (ALVARENGA, 2010, s/p)
O debate acerca da diversidade e, em especial, sobre as relações de gênero, apesar do pouco espaço que possuem na formação de educadoras e educadores tem avançado e contribuído para o reconhecimento desta temática como essencial para a formação de seres mais solidários e menos etnocêntricos. Nesse sentido é possível e necessário compreender que a diversidade se forja no tempo/espaço. Esse complexo que envolve o que vai “além dos costumes” e que “é objeto de intervenção humana, que faz da vida uma obra de arte, inventável, legível, avaliável e interpretável”, segundo GDE (2009) contribui essencialmente para uma nova prática e concepção da humanidade.
Levar educadoras e educadores à reflexão sobre as relações de gênero em momentos de formação continuada é um caminho adotado por diversas políticas públicas de enfrentamento à violência, discriminação e preconceito de gênero. Sabe-se que essas relações são historicamente construídas, portanto podem ser reconstruídas e ressignificadas. Assim, o texto “Diferentes, mas não desiguais”, presente em Gênero e Diversidade na Escola: Formação de Professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais (2009) define com destreza o conceito que a priori pode orientar o debate, ou seja, cultura:

Fenômeno unicamente humano, a cultura se refere à capacidade que os seres humanos têm de dar significado às suas ações e ao mundo que os rodeia. A cultura é compartilhada pelos indivíduos de um determinado grupo, não se referindo a um fenômeno individual. É como já vimos, cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, atribui significados diferentes a coisas e passagens da vida aparentemente semelhantes (GDE, 2009, p. 22).

Se culturalmente é estabelecido que homem, ou o masculino deve apresentar comportamento mais “forte”, “durão” e mulher o comportamento mais “sensível” e “meigo” e que “homem não chora” e “mulher é naturalmente destinada aos cuidados para com os filhos”, eximindo o homem desta função, é possível estabelecer outro padrão cultural não hierarquizado, de igualdade e solidário. Contudo, a compreensão desta construção histórica é de suma importância para que ela própria seja mudada. Assim, Braga (2010, p.3) afirma que existem expectativas construídas a partir do sistema binário e dicotômico acerca dos papéis sociais estabelecidos para o feminino e o masculino que nutrem imaginário e as representações sociais. Para definir o que vem a ser esses papéis, a pesquisadora coloca:

Penso que o termo explicita a idéia que há certo repertório de condutas, comportamentos, modos de vida próprios e exclusivos para homens e para mulheres que devem ser aprendidos e desempenhados nas relações sociais (BRAGA, 2010, p. 3).

Considerando as ideias de Braga, é possível perceber que essas representações que se manifestam, dentre outras, nas expectativas sobre os papéis de gênero se manifestam, sobretudo, nos espaços de construção de reprodução das relações sociais, em especial, na família e na escola. Levar educadoras e educadores à reflexão sobre sua prática pedagógica de forma a repensar as relações de gênero se torna imprescindível para a construção de um outro paradigma dessas relações, de igualdade e de percepção da historicidade dos preconceitos e violências cotidianos perpetrados muitas vezes de forma inconsciente por educadoras e educadores no espaço escolar.
A escola se faz assim um espaço propício para a transformação, contrução e re-construção dessa cultura dominante masculina. A capacitação de educadoras e educadores para o ensinar-aprender pode desnudar o caráter reprodutivo dessas relações em questão. Como espaço de construção do saber e das relações sociais, a escola pode servir de antítese nesse processo homogeneizante e ditatorial das relações de gênero “naturalizadas” pela sexualidade normativa.
Repensar os cursos de licenciatura, sua carga horária, disciplinas e enfoque central se faz necessário para a formação de novas educadoras e educadores. Contudo, forjar espaços de capacitação e extensão também se justificam diante do grande movimento que tem acompanhado nos últimos anos a valorização de temáticas relacionadas aos direitos humanos. Esse é um desafio em questão que cabe essencialmente à educadoras e educadores movimentar no sentido da superação dessa situação excludente que acaba por afetar as relações sociais e o desenvolvimento destas.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVARENGA, Carolina Faria. A (re)construção de novos saberes e fazeres sobre as relações de gênero na Educação Infantil. In: Teares: Boletim Informativo. Nº3, Ano I, agosto/2010.

BRAGA, Denise da Silva. Vidas na Fronteira – Corpos, Gêneros e Sexualidades: Estranhando a normalidade do sexo. Disponível em:http://www.anped.org.br/33encontro/app/webroot/files/file/Trabalhos%20em%20PDF/GT23-6128--Int.pdf>. Acesso em 14 de abr. 2011.

Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.



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