terça-feira, 4 de março de 2014

Chávez, o Libertador!



por Diney Lenon de Paulo


 “Los que mueren por La vida no pueden llamarse muertos” – Alí Primera

Há exatamente um ano juntamente com companheiros da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, por volta das 18h, estava eu num ônibus, rumo a Brasília para participar da Marcha Nacional das Centrais Sindicais, engajado na luta por direitos para a classe trabalhadora, quando recebi a trágica notícia: Chávez havia falecido.
A notícia, de certa forma esperada, transformou aquela viagem de 14 horas, num momento de profunda tristeza, dúvidas, lágrimas contidas, uma angústia sem medida. O câncer consumiu o valente Comandante, que lutou até o último segundo de vida. Saia da vida para consagras-se, eternizar-se pela história. Como diz o jornalista Arthur Amorin, “Y ahora Fidel?”, no título de seu livro, me vinha à cabeça: E agora América Latina, e agora Venezuela? Mesmo sabendo que uma revolução não se faz somente com líderes, mas, sobretudo com o povo e sabendo a enorme consciência que adquiriu a classe trabalhadora venezuelana, em minha mente martelava: Serão fortes para enfrentar a ganância imperialista? Haverá liderança na Venezuela que fique à altura do processo revolucionário implementado por Chávez? Quanto à segunda pergunta, a resposta era e ainda é: Não!
O dia 6 de março de 2013 foi um dia de milhares de bandeiras vermelhas na Esplanada dos Ministérios, um dia de luta da classe trabalhadora. Homenagem mais bonita não seria possível: 40 mil trabalhadores em coro: Comandante Chávez, presente!
Mas não havia mobilização, luta e gritos de ordem que estancassem a dor que jorrava do coração. Falecia naquele dia o maior líder de toda a América Latina e um dos maiores líderes revolucionários da história! Para mim, que cresci “politicamente” junto com a Revolução Bolivariana, era como perder o chão, navegar a deriva, sem rumo, indeciso. Era o dia 5 de marços de 2013 um dia que marcaria minha vida: O dia que colocaria toda uma revolução à prova. Sem a presença física de seu líder, restava ao povo bolivariano, seguir a revolução diante dos gigantescos ataques que viriam.
Lembro perfeitamente da minha infância quando ouvia algo sobre a Venezuela: misses, mulheres bonitas encantando o mundo! Lembro-me também que Venezuela para mim, além de um país de “chicas hermosas” tinha outro significado: a seleção de futebol acostumada a levar goleadas. Era raro um jogo onde a Venezuela não levava três, quatro, até oitos gols numa partida, ainda mais quando o adversário se tratava de Brasil ou Argentina. Essa era a imagem que tinha da Venezuela quando criança, nada mais, o que é compreensível para uma criança dos anos 1980 no Brasil.
Na adolescência, já mais interessado nesse mundo, nas pessoas e iniciando uma vida de sonhos para além das fantasias de infância, me interessei por poesia (Ferreira Gullar, Pablo Neruda, Carlos Drummond), por música punk, de protesto. Era eu, um “headbanger punk”, que adorava a banda Garotos Podres e odiava a escola com seu formato autoritário. Não é por menos que a lendária “Dona Elvira”, diretora do David Campista, escola onde estudei até a sétima série, me convidou a “retirar-me” daquela instituição quando me rebelei contra a proibição do uso de boné. Não sabe ela que bem me fez, por mais paradoxo que pareça ser essa conclusão, vinda de um professor. Ao ser rejeitado pela escola, fiquei aproximadamente 4 anos longe dessa instituição, vivendo experiências que marcariam minha vida.
Entrando na vida adulta, lá pelos meus 18, 19 anos, já me interessava por política, livros e tinha a orientação de um amigo professor que me apresentou as idéias libertárias e me ensinou a sonhar para além do próprio umbigo. Nessa época, ainda vivendo a “Vida Loka”, conheci pessoas de outros países, do Peru, Bolívia, Colômbia, que eram artesãos que viajavam pela América. Encantei-me muito com esse espírito aventureiro. Não sabia eu, que daqueles contatos e experiências, nascia um grande amor, um amor por nossa América, nossa gente.
Vivendo experiências em viagens com mochilas nas costas, sem dinheiro (“caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento”), leituras e contatos, percebi que era necessário me engajar em alguma coisa que fizesse sentido e diferença não só para mim, mas para o mundo. Sem condições financeiras, nem herança, nem família rica, após concluir o Ensino Médio em 3 meses através do CESEC, tentei um vestibular para o curso de Ciências Sociais, com uma única esperança: ser aprovado em primeiro lugar, já que a faculdade contemplava o primeiro colocado com bolsa integral de estudos. Naquela época, anos 1990, não havia ENEM, PROUNI, nada. Eis que o resultado não poderia ser melhor: primeiro colocado, com a melhor nota de redação (me lembro do tema: o atentado terrorista do World Trade Center). Me lembro também que a frase final da redação era: “A dor do povo estadunidense é legítima e tão grande quanto a dor dos povos provocadas por seu governo”.
Inicia-ve o novo século, o novo milênio e eu também passava por profundas mudanças. Ao iniciar os estudos acadêmicos passei a estudar Ciência Política e ouvia constantemente notícias da Venezuela, mas não de suas “hermosas muchachas”, nem de seu futebol insípido, mas de um tal Presidente Hugo Chávez, um homem aparentemente nacionalista, que , dentre outras frases polêmicas se destacava: “Ianques de mierda, que se vayan al carajo!”. Isso, devido ao meu espírito libertário, anárquico, me encantava como poesia. Passei a pesquisar sobre esse “mal educado” Presidente que peitava a maior potência militar e econômica da história.
A Venezuela sempre foi um país rico, mas marcado por uma gigantesca desigualdade social. Esse país possui o “outro negro” tão cobiçado por potências imperialistas, possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Os EUA eram grandes aliados do país sul-americano. O barril de petróleo era vendido a U$ 14 para o Tio Sam e Hugo Chávez havia alterado a relação com os EUA e hoje mesmo sendo o maior comprador de petróleo venezuelano, os ianques têm de pagar aproximadamente U$ 100 pelo barril, enquanto o venezuelano, hoje, paga U$ 0,7 pelo litro da gasolina. Isso desde os primeiros estudos me intrigou muito: Um Presidente que aumenta o preço do petróleo para “El diablo” (nas palavras de Chávez, durante discurso na Assembleia da ONU) e reduziu o preço dos seus derivados para seu povo. Não era um nacionalista qualquer. A curiosidade me fez escravo e ali estava um universitário interessado em América Latina não mais por questões culturais e pela beleza da língua criolla, mas por política, geopolítica e imperialismo.
O interesse pelo estudo da realidade venezuelana tinha como pano de fundo uma questão ideológica: era eu, com meus 16, 17 anos um anarquista inconseqüente, que ao estudar a ciência política percebeu que o sonho de igualdade proposto pelos libertários só é possível com uma disciplina e caminho socialista. Sabia eu que Chávez era um nacionalista, grande admirador de Fidel Castro, defensor da Grande Pátria de Bolívar. Esperava eu que Chávez de declarasse socialista tão logo.
O petróleo na Venezuela sempre foi fornecido quase “de graça” aos EUA. Em 1989, obedecendo a ordens do Fundo Monetário Internacional – FMI, o governo venezuelano privatizou serviços, aumentou impostos e a população pobre saiu às ruas para protestar. Era 27 de fevereiro. Em dois dias o exército, sob o mando de Carlos Andrés Perez, matou mais de mil pessoas. Esse fato ficou conhecido como “El caracazo”. Não sabia a elite mancomunada com as multinacionais que esse massacre marcaria profundamente muitos militares venezuelanos, que perceberam que estavam a usar armas contra seu próprio povo, a favor do interesse internacional e não da população. Entre os militares descontentes estava Chávez, que liderava um movimento chamado como “Movimento Bolivariano”, inspirado nos ideais do libertador Simon Bolívar, o patriota Venezuelano que expulsou os espanhóis no século XIX e propunha a união dos países da América Latina numa “Grand Pátria”.
Com o passar dos anos, estudando, mas, sobretudo, acompanhando diariamente os fatos, lendo jornais e revistas alternativos aos da grande imprensa privada (burguesa), vi os anos 2000 marcarem a história da América Latina com a mudança de paradigma. De uma região dócil e submissa aos interesses imperialistas dos EUA, a América do Sul ia se tornando uma região hostil às políticas ditadas pelo FMI, por Washington. Vivi a esperança da verdadeira independência latino-americana e a cada dia ficava mais claro como a imprensa capitalista atacava qualquer ação de Chávez que para favorecer o povo desfavorecesse a elite e o interesse do capital.
Chávez foi o grande líder desse processo de ruptura, de libertação e integração dos países hermanos de América iniciado por Simón Bolívar, no século XIX. Chávez, militar de origem simples, o menino que vendia laranjas para ajudar a avó em Sabatena, cidade extremamente pobre da Venezuela, chegou ao poder ao se tornar conhecido por tentar derrubar o governo de Carlos Andrés Perez em 1992, num levante cívico-militar. O levante falhou, mas projetou a liderança de Chávez para todo o país. Ficou dois anos preso e ao sair, se candidatou a Presidente em 1998, vencendo uma adversária, ex-miss universo, era o duelo da “bela contra a fera”.
Com discurso popular, franco e pedagógico, prometeu incorporar o povo na política e transformar a Venezuela numa democracia participativa, direta e não mais uma democracia representativa, de “representantes” distantes do povo. Prometeu e assim o fez. Me lembro do dia que vi num jornal, lá pelos anos 2000, 2001, o Presidente da Venezuela sendo chamado de “populista” (que no senso comum político é quase um oportunista, enganador) por ter ido pessoalmente a uma favela em Caracas onde as chuvas causaram enorme prejuízo e mortes. Chávez era atacado pela imprensa por estar com os pés no barro, ajudando a retirar a sujeira de uma casa. Além dessa imagem, me marcou o fato do presidente, constantemente apedrejado pela imprensa, ter ordenado que a população daquela favela deixasse o local e se mudasse para um prédio de propriedade de empresários italianos, onde seria inaugurado um hotel cinco estrelas. O próprio exército se incumbiu de ajudar as famílias. Parte das famílias que não couberam no “hotel gringo”, foi levada para o Palácio Presidencial e outros prédios do governo com a promessa de saírem de lá somente quando suas casas estivessem prontas. Houve quem não aprovou essa medida, é claro, os empresários italianos. Chávez tinha lado e quando se tem lado, inimigos aparecem. Minha avó, que nada entedia de política me dava conselhos na minha infância que me vinham à mente quando via os exemplos de Chávez: “Na vida, ou se é santa ou se é puta”. Chávez não era mentiroso, nem “acendia uma vela para Deus e outra para o capeta”, Chávez estava do lado dos pobres. Os inimigos que Chávez estava conquistando eram poderosos e os aliados eram como ele, mestiços, de origem humilde.
Nas aulas de Ciência Política, me recordo, aprendi sobre nacionalismo, direita, esquerda, populismo, elitismo e outras tantas teorias e formas políticas. Me interessou muito o nacionalismo de Perón, na Argentina, de Vargas, no Brasil e Cárdenas, no México. Esses presidentes que fizeram história, foram corajosos ao nacionalizar empresas estrangeiras em seus territórios. Eles pensaram no futuro dos seus países. Nenhum deles era socialista, mas defendiam que a riqueza nacional deveria servir à nação e não ao capital estrangeiro.
Chávez nacionalizou o petróleo venezuelano e mudou a política externa. Priorizou a relação com os países da América Latina. Cristão fervoroso, defendia que o “pão deveria ser dividido” não só com os pobres do seu país, mas com os “hermanos” de outros países e passou a vender petróleo abaixo do preço de mercado para países pobres, inclusive para pessoas pobres dos EUA. A elite Venezuela, acostumada com a frieza da relação comercial capitalista, esbravejava pelos quatro cantos.  Não aceitava a burguesia venezuelana, que seus privilégios estavam se pulverizando em esperança para outros povos e o governo dos EUA temiam que Chávez se tornasse exemplo, afetando a lógica individualista e egoísta do seu sistema da “liberdade”.
Com esse discurso e prática de Chávez, as aulas de Marxismo na faculdade me pareciam mais reais, pois Lenin, na Rússia de 1917 já alertava que o socialismo só é possível com o internacionalismo, com a união dos trabalhadores. Marx disse isso em 1848, em seu célebre manifesto: “proletários de todo o mundo uni-vos”. Chávez demonstrava seu internacionalismo com sua característica única, baseado em princípios cristãos. Eu que não me considerava cristão, inclusive porque não frequentava meu catecismo com a Dona Palmira na Igreja de São Domingos nos anos 1980, preferindo jogar Super Mário Bross na casa de um coleguinha, me via seduzido pela releitura do Cristianismo feita por Chávez. Logo eu viria a entender que Chávez se aproximava da Teologia da Libertação.
O polêmico Presidente, tão atacado pela imprensa brasileira e capa da Revista Veja algumas vezes, retratado pelo panfleto semanal da direita como ditador buscou laços com China, Rússia, Índia, Brasil para diminuir sua dependência dos EUA nas relações comerciais. Suas atitudes e seu discurso aberto e objetivo conquistaram milhões de venezuelanos e gente do mundo todo. Com o fim da URSS nos anos 1990, a esperança de um novo socialismo surgiu nas palavras de Chávez, um “socialismo do século XXI, uma mistura de Marx e Cristo”.
Vi os anos 2000 colocarem a América Latina como o centro político do mundo. Vi os EUA enviarem 160 mil soldados para o Afeganistão, com a desculpa de capturar Bin Laden (um ex-aliado dos EUA contra a URSS nos anos 1980). Vi O Iraque sendo invadido porque os EUA apresentaram “provas” na ONU de que Sadam Hussein possuía armas de destruição em massa e passei anos esperando e ainda espero as provas. Vi o imperialismo ianque de empenhando no controle do petróleo pelo mundo e nossa região que eles consideravam “seu quintal” elegendo governos mais independentes, mais nacionalistas e menos subservientes aos ditames de George Bush, o maior assassino que vi nos últimos anos.
Como reflexo das políticas neoliberais, de privatizações, flexibilização de direitos e venda do patrimônio nacional, outros países na América do Sul passaram a eleger presidentes mais “à esquerda”, como é o caso de Evo Morales (o sindicalista da Bolívia), o primeiro presidente índio de um país de maioria indígena (curiosidade: o presidente que antecedeu Morales, mal falava a língua do seu povo e se mudou para Miami quando Morales nacionalizou o gás boliviano), Rafael Correa (Equador), Nestor Kirschner (Argentina), Lula (Brasil), Tabaré Vasquez (Uruguai), Daniel Ortega (Nicarágua). Fui testemunha e mais do que isso, fui, com todo orgulho, “agente” desse processo, lutei muito para a eleição de Lula no Brasil e participei juntamente com vários companheiros da campanha que sepultou o projeto da ALCA – Área de Livre Comércio das Américas. Ainda me lembro de Chávez, ao lado de Maradona e Evo Morales, no estádio do River Plate, em Mar Del Plata, Argentina, cantando junto com 30 mil pessoas: Alca, Alca... al carajo! Foi lindo! O projeto de Bush para engolir nosso continente foi sepultado com a aliança de Brasil, Argentinal, Venezuela e Bolívia.
A América Latina dos anos 2000 é reflexo do “estupro” ao qual fomos submetidos nos anos 1990, praticado por governos sem compromisso algum com seu povo, mas sim com as multinacionais. Na Bolívia, antes de Morales, tiveram a audácia de privatizarem até a água potável, tudo em nome de uma multinacional chamada Bechtel Corporate, que Morales, quando eleito, expulsou do país.  Lembro-me de centenas de manifestantes diante da Bolsa de Valores de São Paulo levando paulada da polícia quando tentavam barrar a privatização da Vale do Rio Doce. Não conseguiram, vendida por 3,4 bilhões de dólares, a Vale lucrou em apenas um ano, 12 bilhões e hoje sua exploração de minério não pertence aos brasileiros. Imagino Getúlio Vargas como deve se contorcer na cova. Chávez além de ser fruto desse processo, foi um líder, um inspirador, um pedagogo revolucionário, que ensinou o povo pobre, os moradores dos barrios (favelas) a participarem da política e levantou novamente a bandeira do socialismo quando o capitalismo cantava sua vitória, com o “fim da história”. Vivi isso, sou testemunha viva disso!
O grande apoio popular de Chávez entre a imensa maioria da população venezuelana se dá através de suas políticas públicas, das “missões”, como “La misión Robison”, que alfabetizou milhões de venezuelanos e consagrou a Venezuela ao posto que poucos países do mundo conseguiram: país sem analfabetos! Cresci ouvindo que somente Cuba havia eliminado o analfabetismo em todo o continente americano. Inspirados em seu libertador nacional, José Martí, os cubanos reafirmam: somente um povo culto pode ser livre!
A “misión barrio adentro”, com parceria de Cuba, levou 40 mil médicos para as favelas, cidades distantes, montanhas e zonas rurais e indígenas, diminuindo consideravelmente os alarmantes índices sociais venezuelanos que as políticas neoliberais deixaram como herança para o chavismo. A operação “milagro” que levou a Cuba 15 mil venezuelanos para fazerem cirurgias oftalmológicas é exemplo da mudança que o governo liderado por Chávez implentou. A mission sonrisa, levou atendimento odontológico a mais de 300 mil pessoas nos bairros pobres da Venezuela, o que fez com que o povo pobre, maioria da população, enxergasse no governo um governo do povo e para o povo.

Hoje são mais de 700 mil casas entregues a famílias pobres, além da criação de universidades por todas as cidades venezuelanas. As casas entregues à população contam com lavanderia coletiva, horta comunitária, creche e posto de saúde. A população é responsável por gerenciar os conjuntos habitacionais e as decisões devem ser tomadas em assembléias. Chávez dizia: é preciso radicalizar a democracia, de baixo para cima! O povo deve ler a Constituição, saber das leis, dos seus direitos para defendê-los!
Essas mudanças não se deram em meio a um mar de rosas. Para efetuar as mudanças, Chávez teve que retirar privilégios de uns 10% da população, parcela essa que desde então não tem feito outra coisa a não ser conspirar contra o governo para retomarem o que consideram ser “seu”. Um exemplo disso é o 11 de abril de 2002.
Apoiados por parte do exército e pela mídia privada, tentaram um golpe de estado em 2002 e retiraram Chávez do poder por menos de 2 dias. Os golpistas indicaram o dono de um canal de televisão, Carlos Carmona para assumir a presidência, fecharam o congresso, destituíram juízes, cassaram mandatos, decretaram o estado de sítio, fecharam o ministério público e outras instituições. Não sabiam os golpistas a força e determinação do povo venezuelano. Milhões de pessoas saíram às ruas exigindo a volta do Presidente e os militares leais a Chávez e à Constituição daquele país retomaram o poder e Chávez voltou mais fortalecido do que nunca. Hoje é sabido e notório que o golpe foi financiado e planejado por Washington.
Chávez liderou 17 eleições, venceu 16. Mudou a Constituição Federal e a colocou para aprovação em referendo, venceu. Criou o PSUV – Partido Socialista Unido de Venezuela, que conta com 2 milhões de filiados. Chávez ainda foi audacioso, criou um artigo na Constituição Federal daquele país que possibilita a sua saída do poder antes do término do seu mandato. Para isso, basta que os interessados consigam um certo número de assinaturas para a realização de um plebiscito. A oposição conseguiu as assinaturas e o plebiscito aconteceu. A vitória foi do movimento “Chávez no se vá”. Até Jimmy Carter, ex-Presidente dos EUA afirmou que a Venezuela vive uma democracia intensa.
Vi e vivi os anos 2000 com grandes esperanças na mudança do continente. Vi a criação da ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas, em contraposição à ALCA, dos EUA. Vi a criação do Banco do Sul, que visa financiar o crescimento dos países do continente, trata-se de um banco supranacional, baseado na solidariedade e não no puro enriquecimento. Vi e vivi a criação da Telesur (www.telesurtv.net), canal de televisão que visa integrar os países e promover a informação alternativa aos meios privados. Vi e vivi a criação da UNASUL – União das Nações Sul-Americanas, que pretende fazer frente a organismos onde os EUA dominam, como OEA. Vi e vivi a criação da CELAC – Comunidade dos Estados Latino Americanos e do Caribe, como proposta de integração dos países da América, sem, é claro, os EUA. Isso demonstra a política externa e a grande liderança de Chávez no mundo, como esperança contra o neoliberalismo.
Em junho de 2011, Chávez anuncia que está com câncer, maligno, na região pélvica e passa a se tratar com sessões de quimioterapia e radioterapia. Grande homem, de garra, luta até o último dia. Dizia o Comandante que “amor com amor se paga”. Conhecido por suas intervenções na televisão onde cantava, declamava poesias, dançava, Chávez se torna um grande líder que inspirou milhões pelo mundo.
Quando partiu dessa vida, deixou seu exemplo para calar os agorentos e descrentes na humanidade. Há sim pessoas que pensam e agem pelo “amor ao próximo”, há sim pessoas que não se vendem. Há grandes exemplos que podemos seguir. Como seu sucessor, indicou Nicolás Maduro, que um mês após a morte do Comandante Supremo, venceu as eleições, em 14 de abril do ano passado.
Confesso que quando Chávez morreu, chorei por alguns dias. Toda essa trajetória desse mito e minha trajetória pessoal me vieram à mente. Temi pelo fim da revolução, não nego, pois conhecendo a história, sei que o Imperialismo Ianque não mediria esforços para acabar com a Revolução que inspirou e inspira o mundo. Minha maior alegria é saber que a obra de Chávez foi tão profunda que hoje na Venezuela, há um povo e um exército que se fundem num corpo único e ninguém nem nada derrotará a Revolução. Chávez foi invencível e como dizem os próprios venezuelanos: Chávez somos millones!


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