quinta-feira, 15 de abril de 2010

Padrões de Cultura


por Diney Lenon de Paulo

A concepção do costume ainda é pouco difundida entre os meios acadêmicos que fazem estudo da antropologia nos dias atuais. Ao ocupar-se dos seres humanos como produtos da vida em sociedade, a antropologia busca o conhecimento das diversas culturas existentes, as suas formas de transformação e diferenciação, mas o costume, enquanto fruto das relações de um determinado grupo social e perpetuação deste, requer ainda um estudo mais aprofundado, pois nenhum ser está imune às tradições da sociedade em que está inserido.
Partindo desse princípio, a antropóloga Ruth Benedict inicia suas considerações acerca dos Padrões de Cultura e do costume local em contraposição à natureza humana, objetivando estabelecer critérios científicos, embasados pela antropologia social, que possam vir a contribuir ao esclarecimento dessa questão.
A natureza humana ao longo da história tem sofrido transformações quanto à sua definição. A nossa falsa perspectiva acerca da “incomparabilidade” do homem frente aos demais seres tem sido alvo de críticas por parte de estudiosos desde princípios do século XIV, quando Copérnico recusou-se a aceitar a subordinação deste planeta a ocupar “apenas um lugar entre outros no Sistema Solar”. No decorrer dos séculos, no tempo de Darwin, tendo cedido ao inimigo a centralidade da Terra, diante da imensidão do Sistema Solar, “o homem lutou com todas as armas de que dispunha pela exclusividade da alma, atributo inconcebível dado por Deus”.
O homem sendo resultado da evolução dos primatas, teoria defendida pelos evolucionistas, causava um certo desconforto aos padrões sociais existentes, e ainda hoje, segundo a autora, os homens sentem essa preocupação quanto à centralidade das suas instituições e realizações do processo de expansão da civilização branca, fato esse comprovado pelas estruturas sociais dos mais primitivos grupos sociais.
Todas as tribos primitivas concordam em reconhecer a categoria dos estranhos ao seu grupo, que estão fora do código moral, não reconhecendo a estes um lugar no esquema humano. O homem primitivo sempre foi um habitante de uma província, assim afirma Ruth Benedict, e criou altas barreiras para a sua isolação, esse fato gerou um “estranhamento” em relação ao outro, e não só isso, mas uma não aceitação ao outro, ao diferente. Essa distinção se faz notar entre o aspecto religioso: “A distinção entre qualquer grupo e povos estranhos torna-se, em termos de religião: a de verdadeiros crentes e de pagãos”.
A nossa cegueira perante as outras culturas está implícita no processo de expansão da civilização do homem branco. Defendemos a inevitabilidade de cada motivação familiar, tentando sempre identificar os nossos modos locais de comportamento, com Comportamento, ou os nossos próprios hábitos em sociedade, com Natureza Humana. Assim diz Ruth Benedict quanto ao desdém com que tratamos o diferente: “...não conseguimos compreender a relatividade dos hábitos culturais, e continuamos privados de muito proveito e de muito prazer nas nossas relações humanas com povos de diferentes tipos de cultura, e a não ser dignos de confiança nas nossas relações com eles”.
Nos dias atuais onde o que vemos são “as novas cruzadas do bem contra o mal”, essa questão se torna evidente aos nossos olhos. O etnocentrismo, tanto puramente cultural (moral e ético), quanto religioso (judaico-cristianismo), político (democracia frente às instituições locais) representa essa padronização do pensamento e das instituições, onde se sobressai aquele que possui maiores “argumentos civilizatórios”. A confusão entre o costume local com natureza humana deve ser repensada e analisada com profundidade, pois diante dessa “nova cruzada”, o diferente perde lugar e a velha concepção da centralidade do homem, do “eu” e da “minha instituição” frente à “instituição do outro” tem gerado conflitos étnicos e de civilizações. A proposta de homogeneização, ou ocidentalização do globo, que atende interesses políticos específicos é uma ameaça ao próprio homem, pois a diferença é inerente à sua própria construção e institucionalização de suas relações.
O preconceito de raça, justificativa ideológica da civilização branca, tem origem na base cultural onde está inserido e esse reconhecimento é uma “necessidade desesperada da civilização Ocidental”. A conscientização de que “o homem é moldado pelo costume e não pelo instinto” é um aspecto a ser trabalhado pelas ciências sociais. A essa problemática a antropologia dá duas respostas: a primeira respeita à natureza da cultura e a segunda à natureza da herança, assim conclui a antropóloga Ruth Benedict.
A pureza racial é ilusão, a hereditariedade é uma questão de linhagens familiares, para além disso é mito. O que na realidade liga os homens é a sua cultura, as idéias e os padrões que têm em comum, essa diferenciação das sociedades é uma premência que se faz notar diante do processo civilizatório judaico-cristão.
O respeito ao outro, ao diferente se coloca como necessidade da manutenção do convívio em sociedade. A cultura se apresenta como elemento conciliador e delimitador do respeito. O posicionamento etnocêntrico frente ao mundo pode gerar, como tem gerado, desastres humanitários, as ciências sociais desempenham nesse contexto papel fundamental para a afirmação da cultura enquanto conjunto de atitudes, valores e padrões que moldam a identidade. A conscientização de que o ser é moldado pelo meio em que vive e que as verdades são relativas é um passo fundamental para que o impasse que vivemos nesse princípio de século, entre o “bem e o mal”, seja sanado, essa visão maniqueísta das coisas pode muito bem ser solucionada dentro das possibilidades que a antropóloga Ruth Benedict coloca quando afirma que a cultura não é um complexo que seja transmitido biologicamente, nem mesmo a herança cultural, a compreensão do outro e do processo de construção deste, dos seus valores e instituições, é o caminho que se faz necessário para um avanço nas relações entre os homens, entre as sociedades, entre os diferentes.

Um comentário:

  1. estou querendo saber o significado do pensamento de ruth benedict " O OLHO QUE VE É O PÇHO DA CULTURA"

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